Ritmos Únicos
- stratievsky
- Nov 1, 2023
- 3 min read
O trailer de cinema muitas vezes é o motivo pelo qual te leva para ver o filme. Às vezes o filme pode nem ser tão bom, mas o trailer pode ser sensacional e isso acontece com mais frequência do que você imagina. Quantas vezes você assistiu ao trailer e pensou “esse filme deve ser bom” e quando foi assistir ao filme, depois de visto o trailer, se decepcionou? Para convencer o espectador a assistir ao filme, o editor de trailer tenta criar uma peça memorável e única e para isso utiliza alguns recursos e técnicas para fazer a peça se destacar. Porque como vimos aqui, não basta contar a história do filme, mas sim contar ela com estilo e uma das ferramentas para isso é criar Arranjos Rítmicos Únicos (ARU), que podem ser, tanto Visual quanto sonoro. Neste post vamos contar como usar essa técnica e porque ela pode ser tão eficiente.
Arranjo Rítmico Único Sonoro (ARUS)
O ARUS é a composição de sons relacionados ao filme e partes de sound design dispostas de forma rítmica na timeline, criando uma espécie de “música” para criar uma cama de audio personalizada para as imagens. Mas por que criar um ARUS em vez de simplesmente usar uma música? Na verdade você pode usar somente música, mas às vezes ela pode não ser o suficiente para criar uma experiência audiovisual emocionante e fazer o trailer se destacar. Devemos então incluir esses elementos que remetam ao filme. Pode ser um som do próprio filme ou ruídos que tenham a ver com o tema para complementar a música e assim criamos um arranjo rítmico que é único do trailer do filme: O ARUS (Arranjo Rítmico Único Sonoro). Um trailer onde essa técnica foi brilhantemente aplicada é o do O Regresso da 20th Century Studios, em que o editor usou a respiração cansada do protagonista, personagem do Leonardo DiCaprio para ritmar a peça na escalada do 3º ato, criando um ritmo feito com “instrumentos” únicos no trailer.
Arranjo Rítmico Único Visual (ARUV)
Esse recurso é mais sutil e mais incomum de ser visto nos trailers. Mas ao mesmo tempo, e paradoxalmente, é amplamente utilizado quando o filme possui um elenco com muitos atores conhecidos. É comum, nesses casos, as cartelas ou cartões em fullframe com os nomes dos atores serem colocados de forma ritmada na timeline criando uma antecipação para o espectador. Dessa forma ele consegue, mesmo que de forma inconsciente, prever que vai ler algo, no caso o nome do ator ou atriz, quando o momento chegar, não sendo necessário que o cartão fique todo o tempo necessário para a leitura em tela. O trailer do filme Argylle - O Superespião, da Apple Studios, usa esse recurso ao exibir os nomes do elenco ao final da peça, assim como o trailer do filme Napoleão, também da Apple Studios, dirigido pelo do aclamado Ridley Scott. No caso, o nome dele é exibido em cartão, mas em seguida aparece, de forma repetida e ritmada em letreiro sobre imagem, as principais obras do diretor mostrando porquê o nome dele é importante para vender o filme.
Mais discreto é o uso desse recurso sem ser na ocasião de mostrar o elenco. Podemos ver isso no fantástico trailer de Esquadrão Suicida, feito exclusivamente para a Comic-con de 2016, onde, no começo, o editor criou um ARUV mostrando quem são os personagens usando cenas deles se olhando e mais pra frente mostrando o trecho onde são aplicadas as injeções neles.
Esse uso, mesmo sendo mais sutil, desempenha um papel crucial na estética da linguagem audiovisual dos trailers. Em vez de apenas assistir passivamente ao trailer, o espectador se torna mais envolvido, esperando o próximo segmento visual ou nome de ator, diretor ou até mesmo roteirista e produtores a aparecer (Dos mesmos produtores de....) Isso, por sua vez, pode criar uma experiência mais memorável e impactante.
Além do mais, ao criar um Arranjo Rítmico Único, o editor estabelece uma cadência que os espectadores começam a reconhecer e antecipar. Essa repetição rítmica não apenas oferece uma sensação de coesão ao trailer, mas também envolve o espectador em um nível subconsciente. No entanto, uma vez estabelecida essa cadência, o editor pode usá-la para brincar com o espectador escolhendo, ou entregar o que ele espera, o que pode ser altamente satisfatório, ou não entregar, criando espaço para incluir um susto, uma piada, um último golpe... Esse jogo de expectativas mantém o espectador engajado e dá destaque ao trailer. Criar esses arranjos requer experiência e habilidades de edição mais avançadas e quando podem ficar bons na peça trabalhar na criação deles pode ser muito prazeroso e estimulante para soltar a criatividade. Continue nos acompanhando para aprender mais!
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